terça-feira, 24 de novembro de 2009

SANEAMENTO BÁSICO - BUENOS AIRES 2009

SANEAMENTO BÁSICO NO CAMINITO



SANEAMENTO BÁSICO EM PUERTO MADERO



SANEAMENTO BÁSICO NA PLAZA DE MAYO




domingo, 8 de novembro de 2009

SANEAMENTO BÁSICO

A Manutenção do Espaço Político[1]
Apesar da linguagem dos monumentos não estabelecer mais uma referência direta com a população como no passado, a manutenção deste espaço ainda é de grande interesse para o jogo político. Durante esta pesquisa, uma significativa alteração foi identificada no pátio das hermas dentro da Praça XV. Houve, no período de implantação, uma preocupação em dispor as hermas de forma simétrica no jardim, uma estratégia simbólica de nivelar o prestígio dos homenageados. Neste ano a herma de Jerônimo Coelho foi deslocada do ponto original em direção ao limite do jardim, mais próximo ao passeio. Recebeu uma plataforma de granito estratégicamente emoldurada por duas palmeiras adultas, sua visibilidade noturna também foi favorecida por dois holofotes. Essa estratégia denota um investimento na manutenção do funcionamento do jogo político.
Praça XV, Florianópolis, 2008 Praça XV, Florianópolis, 2008

“todos os que têm o privilégio de investir no jogo (em vez de serem reduzidos a indiferença e à apatia do apolitismo), para não correrem o risco de se verem excluídos do jogo e dos ganhos que nele se adquirem, quer se trate do simples prazer de jogar, quer se trate de todas as vantagens materiais e simbólicas associadas a posse de um capital simbólico, aceitam o contrato tácito que está implicado no fato de participar do jogo, e o reconhecer deste modo como valendo a pena ser jogado, (...)” (BOURDIEU. 2007, p.172- 173).
A herma de Jerônimo Coelho destaca-se em relação ao conjunto, conforme podemos conferir pelas fotografias realizadas em 2008, antes da alteração e já em 2009 quando o espaço está visivelmente privilegiado. Esta estratégia de criar um espaço de favorecimento à contemplação da figura do político é uma forma de luta pelo poder simbólico, “de fazer ver e fazer crer, de predizer e de prescrever, de dar a conhecer e de fazer reconhecer, que é ao mesmo tempo uma luta pelo poder sobre os poderes públicos” (BOURDIEU. 2007, p.174). Em entrevista a um engraxate que trabalha na praça, respondeu confiante de que era uma medida comum a todos os bustos, que seria só uma questão de tempo. No entanto, em uma investigação junto ao IPUF, nada constava em relação aos outros bustos. Nova pesquisa junto a FLORAN, órgão responsável pelas praças da cidade, somente constava uma solicitação de plantio de flores em torno do monumento restaurado, para antes da solenidade de entrega novamente à “sociedade”. Esse episódio denota a estratégia de manutenção do espaço político.


Instalação da obra Saneamento Básico, 2009.

“Saneamento básico”[2], foi uma intervenção estratégica no monumento que busca repaginar a imagem de Jerônimo Coelho. O procedimento foi muito rápido e simples, tratou-se da colocação de um adesivo, que simula uma tampa de um bueiro com a frase “conhecer a cidade é contemplar seu incessante devir”. A frase escolhida conserva uma neutralidade, mas ao mesmo tempo abre para amplas reflexões. Remete a toda e qualquer mudança a que está sujeita a cidade, inclusive a mudança estratégica do memorial em questão. A tampa de um bueiro é uma maneira limpa de tapar as imundices da cidade.
[1] ZIMERMANN, Giovana AP. Arte Pública em Florianópolis: A Praça XV Como Lugar Praticado. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo e História da Cidade UFSC, 2009.
[2] Série “Saneamento básico” Giovana Zimermann 2008.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Corpografia, a Escrita Gestual na Cidade


Corpografia, a Escrita Gestual na Cidade[1]

Para Milton Santos na grande cidade, hoje, o que se dá é tudo ao contrário.

"Quem na cidade tem mobilidade – e pode percorrê-la e esquadrilhá-la – acaba por ver pouco, da cidade e do mundo. Sua comunhão com as imagens freqüentemente pré-fabricadas, é a sua perdição. Seu conforto que não desejam perder vem exatamente dessas imagens. Os homens “lentos’, para quem tais imagens são miragens, não podem, por muito tempo, estar em fase com esse imaginário perverso e acabam descobrindo as fabulações". (Santos apud Jacques, P. 1998, p: 134).


Os “homens lentos” que Milton Santos se refere, não estão motorizados, caminham a pé pela cidade. Em vez de se deslocarem de um ponto a outro, velozmente de automóvel, percorre inúmeros pontos, conhecidos e desconhecidos, praticando a cidade também de forma diferente daquela programada para a circulação comercial. Para Certeau o simples caminhar do pedestre sugere um “espaço de enunciação”, ele define o espaço como um “lugar praticado”[2]. (Certeau apud Pallamin, V. 2000, p: 38).
O pedestre, quando cria desvios em seu caminhar, transgride e atualiza alguns usos do espaço público, também o artista de rua está ligado a este lado transgressor ou clandestino da vida social urbana, uma resultante que implica enfrentamentos constantes. Florianópolis transformou-se na cidade das vias rápidas, como tantas outras cidades, condicionado os usos dos espaços públicos que refletem a predisposição pragmática de uma cidade. É na rua que o artista performático realiza suas atuações, são pequenos enredos encenados através da gestualidade, em que revelam atos corporais e visuais, nos quais os movimentos do corpo elaboram uma estética urbana rica, uma forma de compor o social contemporâneo.
O artista se oferece como obra pública, realizando uma escrita corpórea que desbanaliza o cotidiano da cidade. “A vida cotidiana começa a nascer quando as ações e relações sociais já não se relacionam com a necessidade e a possibilidade de compreendê-las, ainda que por meio místicos ou religiosos; quando o resultado do que se faz não é necessariamente produto do que se quer ou do que se pensa ter feito”. O trabalho alienado, segundo Marx, é ato fundante da vida cotidiana. (Martins apud Pallamin, V. 2000, p: 43).
O malabarismo com fogo, à noite, desenha o céu de Florianópolis de forma cortante e visceral. O corpo, nesse ato, é instrumento material desse tipo de arte que também é uma inscrição, uma escrita composta de gesto, som, cor, forma, calor. Mas é necessário um olhar sensível do espectador, para a escrita produzida pelo corpo no espaço urbano, e a percepção desse feito não é exclusivamente visual, ao contrário, mobilizam os órgãos dos sentidos, conduzindo-nos através da visão, da audição, do olfato e do tato. Perceber estes atos demanda um exercício de alteridade. Mesmo sendo um ato voluntário, nem sempre é bem recebido pelas pessoas motorizadas e condicionadas na obrigatoriedade dos usos programados pela cidade. É preciso que haja envolvimento entre o ato de escrever e o ato de perceber as escritas corporais no mundo urbano. Para perceber a escrita feita pelo corpo que se desloca dentro da cidade, há necessidade de uma revolução no olhar.
Laplantine cita Merleau-Ponty, o qual “em ruptura com nossa tradição intelectual da representação, mostra até que ponto o olhar corresponde ao olhar do corpo, envolvendo o corpo inteiro, completando-se a partir dele.” Define de modo sutil e metafórico o encontro entre o observador com o que é observado: “nós construímos o que olhamos à medida que aquilo que olhamos nos constitui, nos afeta e acaba por nos transformar (...)”, e sintetiza: “tudo isso é possível a partir da revolução do olhar[3].” (Laplantine, F 1996).
A revolução do olhar para romper com o condicionamento e perceber o inusitado faz-se necessário. Olhar o outro é fundamental neste processo, pois o olhar que desconsidera a experiência do outro, trata-se de um olhar condicionado, estéril, improdutivo.
Nesta medida a cidade, pode ser lida pelo corpo e o corpo escreve o que segundo Guez, poderíamos chamar de corpografia[4], trata-se do desenho dos corpos no corpo urbano e social. A palavra grafia vem do verbo grego grapho, que significa arranhar, traçar linhas, escrever, assim, está em jogo uma escritura do corpo na cidade, “que seria a memória urbana no corpo, o registro de sua experiência da cidade”. (JACQUES, P.1998, p:134).


[1] Giovana Zimermann
[2] Nessas práticas, Certeau também inclui os discursos relacionados a estes espaços (dentre os quais as “histórias espaciais”, isto é, narrativas dos usuários envolvem tais espaços). Paola Berensten. Corpos e Cenários Urbanos Territórios urbanos e políticas culturais. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1998, p:119.
[3] “Paradoxalmente, o retorno do observador ao campo de observação, não se efetua pela via das ciências humanas, nem mesmo pela filosofia, mas pelo viés da física moderna que reintegra a reflexão sobre o sujeito da atividade perceptiva, como condição de possibilidade da própria atividade científica. Heisenberg mostrou que não se pode observar um elétron sem criar uma situação que o modifique. Em 1927 ele criou seu famoso princípio da incerteza”.[3] (LAPLANTINE, F.1996.p:128)
[4] Termo que foi proposto por Alain Guez Durante o Seminário de preparação ao colóquio “L´habitar dans as poétique première”. (EHESS – Paris, 2005/Cerisyla-Salle, 2006)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

ARTE E PÚBLICO NA CIDADE CONTEMPORÂNEA


ARTE E PÚBLICO NA CIDADE CONTEMPORÂNEA


A inserção de obras de arte no espaço público tem sido uma estratégia para humanizar as cidades. Nos anos 80, houve um forte impulso das políticas culturais na direção da Arte Pública, especialmente em cidades européias. “Berlim e Düsseldorf, mantêm um programa constante de instalação de obras plásticas em ruas e parques com o objetivo de desbanalizar o cotidiano e possibilitar a população um momento de reflexão e projeção numa outra dimensão existencial”. (Coelho, 2004: 49)

Na contemporaneidade a Arte Pública não se ocupa mais de ser somente monumental. A cidade é composta por diferentes grupos e cada um com sua atuação e interesse específico. A arte em sintonia com essa diversidade, e ciente da realidade estratificada em que vivemos, revela novas perspectivas que vão além do ornamento e podem inclusive desencadear um choque estético-cultural, propiciando reflexão sobre a nossa existência, instigando a sociedade e provocando as consciências.

Essa divisão social estanque apresenta-se cada vez mais evidente. Na era da reurbanização, os parques públicos estão sendo abandonados e, por conta disso, os condomínios projetam suas áreas de lazer, tirando a responsabilidade do poder público de revitalização desses parques. Cabe ao urbanismo atuar, literalmente, na esfera espacial, para a estruturação do urbano. A arte pode intervir sutilmente, de forma metafórica, propondo ações, construindo “parênteses” que funcionem como espaço ficcional, deixando suspensas as fronteiras com o espaço real. Alguns lugares considerados “ocupados” dentro da cidade podem e devem continuar sendo lugares das expressões sociais, e o nosso grande desafio é saber como ocupá-los. Através da Arte Pública é possível materializar algumas aspirações de usos coletivos em projetos artísticos.

Um exemplo é o que chamo de “lúdico e afectual” que foram algumas propostas interativas instaladas no espaço público de Florianópolis. Meu objetivo é a relação entre obra e público, para promover o “encontro” que se estabelece no âmbito da contemplação, da reflexão ou mesmo da apropriação temporária dos objetos, pois o que está em jogo nessas propostas é a receptividade das pessoas que habitam a cidade. “Um dos traços necessários a plena caracterização da Arte Pública é o fato de oferecer-se como possibilidade de contato direto, físico, afectual, com o público”. (Coelho, 2004:50)

Essas são algumas iniciativas no sentido da qualificação do espaço público, como estratégia para humanizar a paisagem, promovendo a multiplicidade das práticas sociais e proporcionando espaços mais significativos para a convivência da população. Contudo as possibilidades de atuação da Arte Pública contemporânea não têm limites, desde que as propostas levem em conta o diálogo com o vasto suporte que é a cidade.

Giovana Zimermann
Julho de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

AMBIENTE URBANO


Em uma circunstância específica, visualizei a possibilidade de atuar sob uma calçada larga, em frente a uma rua movimentada, de um bairro de Florianópolis. Nela, como é habitual, haviam sido instalados cavaletes (fradinhos), mobiliário comum na atualidade, os quais são utilizados como mecanismos para impedir que o local se transforme em estacionamento. Ao limiar entre público e privado, um muro de granito, um suporte muito interessante para propor uma reflexão acerca da cidade.

A proposta desta interferência foi atuar sobre esses dois pontos: duas estruturas (fradinhos), que foram apropriados pela ação artística e transmutados em bancos. Os assentos foram confeccionados em fibra de vidro, de cor branca, pois a intervenção demandava sutileza. No muro já existiam negativos de 2 cm, que dividiam as placas utilizadas para o revestimento. Estes negativos foram retirados e outros foram instalados, estes com 7 cm, e neles frases gravadas, falando da importância do conhecimento da cidade e reflexões poéticas sobre sua ocupação.

A proposta consistia no desenvolvimento de condição para um ambiente urbano de pausa e reflexão para quem transitasse por aquela rua, com o intuito de que, também aquela parte da cidade pudesse estar contaminada culturalmente, incorporando a idéia da cidade como um sistema de informação.

Giovana Zimermann

A LÍNGUA











A LÍNGUA

A divisão social estanque apresenta-se cada vez mais acentuada, na era da reurbanização, os parques públicos estão sendo abandonados e, os condomínios projetam suas áreas de lazer, de certa forma, tirando do poder público a obrigação da revitalização dos parques públicos.


A arte tem se ocupado das questões de cunho social quando reivindica estar entre as pessoas, atuando como propositora de experiências individuais e coletivas para os espectadores. Através da arte pública surge a oportunidade de materializar essas aspirações, nos usos coletivos de projetos artísticos. Esta escultura que denomino “A Língua”, foi uma oportunidade de colocar no espaço público um objeto lúdico, uma provocação, mas antes de tudo, um “lugar” para promover a multiplicidade das práticas sociais dos diferentes grupos que habitam a cidade.


O lugar é uma praça pública em um bairro de ocupação mista: universidade, empresas e residências. O objeto com dez metros é uma língua gigante, um objeto sensual, sensorial, e até certo ponto irônico. Oferta-se ao público, inicialmente pela estética, ilustrando a paisagem, no entanto o que está em jogo é interatividade, um escorregador gigante para crianças e adultos, toda a estrutura pode ser utilizada, nele é possível fazer outros usos, as pessoas, que por ali caminham, podem se alongar ou subir sobre ele para do alto observar a paisagem.