“Especificidades e Alterações nos modos de fazer e pensar o Escultórico: o ensino da Escultura hoje”. Nele foram oferecidas oficinas, nas quais os participantes realizaram projetos de Arte Pública e passaram a instalar seus projetos nos espaços públicos de Florianópolis. Depois de assinalar sistematicamente a perpétua relação do trabalho da Arte com a complexidade dos processos de construção simbólica do espaço público urbano, os objetivos do curso-oficina foi tentar situar, em primeiro lugar, os elementos pertinentes para enunciar hoje a pergunta constante, sempre aberta: Como operar em Arte no espaço público? Para isso foi estabelecido a perpétua (re)atualização do vínculo entre Arte e cidade, a tensão entre o simbólico e o funcional da Escultura pública, as relações estruturais e de sentido que instituem as intervenções escultóricas na cidade, a contribuição das diferentes práticas escultóricas à imagem pública[1]. Depois de formados os grupos de trabalho, estabelecidos os critérios para o conteúdo representacional das propostas, e selecionados os lugares de intervenção, na oficina foram confeccionados os “dispositivos escultóricos”, que seriam utilizados para ativar as ações e intervenções urbanas projetadas. As propostas foram realizadas em diferentes pontos da cidade, todas em caráter temporário, mas que poderiam ser continuadas ou repetidas. Algumas obras aqui apresentadas interagiram com os monumentos Fernando Machado e Memorial Miramar, ambos situados na Praça Fernando Machado, junto a Praça XV de Novembro.
Sou Contra/Sou A Favor, foi outra proposta que interagiu com o centro da cidade, pela sua característica móvel, mas que nos interessa especialmente, a intervenção que fez com o Monumento Fernando Machado. Trata-se de um dispositivo móvel idealizado pelos artistas: Cássio Ferraz, Gabrielle Althausen e Janaí de Abreu, que foi instalado em diversos pontos da cidade e funcionou como um espaço de manifestação pública. As pessoas poderiam escrever sobre os assuntos diversos, com posições favoráveis ou contrárias, ou seja, ser contra ou a favor e escrever seus motivos e se posicionar dentro do dispositivo para ser fotografado com sua frase.
A obra interagiu com o monumento Fernando Machado, inclusive com a sutil possibilidade de re-significar o simulacro, dando a oportunidade das pessoas se posicionarem quanto ao monumento, e, portanto flexibilizando o poder do jogo. Essa proposta nos remete as atuações de Wodiczko quando projetava vídeos de pessoas comuns, para que eles também participassem do “jogo”[2].
Sou Contra/Sou A Favor, Rua Felipe Schmidt e Monumento a Fernando Machado, 2004 – Fotos: MarceloWasem
“Ostracismo” foi a proposta de: Sandra Fávero, Saulo Pereira e José Luiz Kinceler. Consistiu em reproduzir centenas de ostras em gesso com a palavra “ostracismo” escrita na base, e que eram coladas nas colunas do monumento Miramar.
Sobre a palavra, no processo criativo:
“Ostracismo” - Memória Mirama, Praça Fernando Machado, 2004 - Fotos: Sandra Fávero.
OSTREÓFAGO DO DESTERRO - OSTRACISMO DO OSTREÓFAGO - OSTRASISMO DO OSTREÓFAGO - ÓSTRACO DE OSTRAS - DESTERRO DO OSTREÓFAGO - OSTRAS DOS DESTERRADOS - DESTERRO DAS OSTRAS - OSTRACISMO DO DESTERRO - EXÍLO DO OSTRACISMO - VIVA O OSTRASISMO - MORRA O OSTRACISMO - ABAIXO O OSTRAZISMO - SISMO DAS OSTRAS DESTERRADAS - REPULSA AO OSTRACISTA – DESTERRO DO OSTRACISTA – ÓSTRACO DO OSTREÓFAGO – OSTRAS ADEPTAS AO OSTRASISMO – OSTRAS CONTRA O OSTRAZISMO – OSTRAZISMO A FAVOR DAS OSTRAS –
OSTRA + ZISMO
OSTRAZISMO
EXÍLIO = ... lugar afastado, solitário ou desagradável de habitar.
OSTRACISTA = partidário do ostracismo.
OSTRA + SISMO
OSTRASISMO
SISMO = movimento do interior da Terra, o qual conforme a localização de sua origem, pode produzir ondas mais ou menos intensas e capazes de se propagarem pelo globo. Tremor de terra.
Foi uma maneira potente de intervir sobre um memorial extremamente polêmico, conforme foi apresentado no capítulo 3.2. O Memorial foi criticado por sua distância do principal atributo que era estar dentro da água. A propósta “Ostracismo” reconsiderando a noção de persistências simbólicas, teve o intuito de trazer novamente a memória de parte da população, a condição natural dos pilares do trapiche, dentro da água, através das ostras. A estética relacional da obra se dá no sentido colaborativo do trabalho entre os três artistas, no sentido participativo das pessoas que interagem com o trabalho, conferindo-lhes uma ideia de participar ativamente de um processo que anteriormente lhes foi negado. As ostras foram coladas com fita adesiva, de forma que pudessem ser retiradas e levadas como recordação pelas pessoas que por ali passavam.
[1] Texto retirado das conferências ministradas em parceria pelos professores citados: Ana Arnaiz e Javier Moreno. Especificidades e Alterações nos modos de fazer e pensar o Escultórico: o ensino da Escultura hoje 2005 – 2007. CEART – UDESC - Florianópolis - Brasil.
[2] O Jogo é aqui colocado conforme alerta Bourdieu, como a posse de um capital simbólico (BOURDIEU. 2007, p.172- 173). Ler mais em Arte Pública em Florianópolis: A Praça XV como um lugar praticado. Dissertação de Mestrado, Giovana Zimermann, 2009.
Olá Giovana.
ResponderExcluirFaço comunicação dirigida para o Instituto Itaú Cultural, aqui da cidade de São Paulo. Gostaria de um e-mail seu para que possa lhe enviar a divulgação de uma ação da Revista Continuum Itaú Cultural de distribuição nacional que tem relação direta com o tema de seu blog.
Aguardo retorno e desde já agradeço pela atenção.
Para mais informações, acesse: http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/001586.pdf
Renato Pedreira
itaucultural@comunicacaodirigida.com.br
Oi
ResponderExcluirGiovana venho acompanhando seu blog e as açoes que promove em Florianopolis. Estou desenvolvendo algumas obras publicas em Vitoria. Como venho desenvolvendo um trabalho de investigaçao do espaço público na universidade na qual dou aulas, gostaria de trocar informaçoes sobre estas questoes urbanas e a dispersao delas na sociedade contemporânea.
aguardo contato
wtristao(@)gmail.com